domingo, 26 de abril de 2015

A CENTRALIDADE DE CRISTO



Cristo é o fundamento, a base, a origem da comunhão dos filhos de Deus. Se cada grupo cristão fosse focado apenas em Cristo, nenhum problema haveria. Se os “encargos”, “visões”, “moveres” fossem levados apenas por aqueles que os receberam diretamente de Deus, sem envolver outras pessoas, não haveria problema algum. Mas o homem sempre quer convencer seu próximo. Toda ênfase fora de Cristo, produzirá ministerialismo, exclusivismo, heresias e facções. A história é a maior testemunha desse fato. No primeiro século, os grupos cristãos, na verdade, comunidades muito semelhantes a famílias na fé, viviam com simplicidade e pureza, mas não significa que eles não tinham problemas – havia diferenças de opiniões, sim, como em toda família, mas esses problemas eram resolvidos no próprio grupo, na base da sinceridade, comunhão e oração. Os irmãos tinham plena consciência de que Cristo era o centro da sua vida e Ele era o mais importante, Ele era a essência. Tudo o mais era acessório à fé, podendo haver divergências, sem que isso interferisse na comunhão das coisas fundamentais. A esses grupos, o Novo Testamento chama igreja, a família de Deus, e os membros dessa curiosa comunidade chamavam-se, e realmente acreditavam ser irmãos, de fato, ligados por laços muito mais fortes que o sangue. Eles eram capazes de morrer uns pelos outros (leia-se morrer de verdade, ir para a cadeia, apanhar de verdade, etc.). Entretanto, como os problemas se avolumaram, devido à filosofia grega e à infiltração dos judaizantes, alguém teve a “ideia” de que todas as igrejas deveriam caminhar juntas e daí se criou uma rede de igrejas, dirigidas por bispos regionais. Quando o bispo monárquico surge, no segundo século, os presbíteros locais, conselheiros dos mais jovens, se enfraquecem e passam a obedecer ao bispo e não diretamente ao Soberano Senhor, ao Sumo Sacerdote da fé, ao Supremo Pastor. Entretanto, os problemas continuaram… Daí outra ideia: para mantermos a unidade universal e evitar as heresias, que tal um dos bispos se tornar nosso representante e passar a ter a palavra final? Optou-se então que o bispo da maior cidade, Roma, assumisse tal função (a unidade do Império Romano também ganharia uma sobrevida, pelo menos até o ano 476 dc). A unidade formal foi então preservada… Passaram-se dezenas de séculos e a fórmula ainda continua sendo usada até hoje. No fundo, no fundo, toda discussão entre cristãos nos remeterá a essa raiz: ministérios de homens, escolhidos por conveniência ou por compartilharem da mesma visão bíblico-doutrinária, atritando-se. Isso tem ocorrido há 2.000 anos. Isso ocorreu na igreja em Corinto e ocorrerá até a volta de Cristo, se o anticristo não consumir todas as religiões, como alguns entendem. Possivelmente um pequeno remanescente restará. Sempre sobra, ao longo da história, um punhado de “gatos-pingados”, uma minúscula comunidade local, essencialmente cristocêntrica, muito semelhante a uma família na fé, ligados por laços muito mais fortes que o sangue, a qual alguém poderá até mesmo chamar “igreja” ou qualquer coisa semelhante. Como evitar então as divisões por questões doutrinárias? Em relação à interpretação da Palavra, sempre haverá três situações diferentes que requerem tratamentos diferentes:
  1. O CENTRO DA NOSSA FÉ: O centro da nossa fé é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nenhum verdadeiro filho de Deus questiona essa verdade. Quanto mais focarmos em Cristo, menos problemas teremos entre nós. Com respeito a esse fato somos específicos, isto é, não abrimos mão da verdade a respeito da pessoa e obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Se alguém não concorda com isso, é possível que essa pessoa não tenha experimentado o novo nascimento. Nunca será demais enfatizar Cristo; nunca será demais enfatizar o amor e a obra do Pai; nunca será demais enfatizar o operar interior do Espírito. Pelo contrário, a ênfase no centro da nossa fé só nos fará estar mais unidos na fé e unidos entre nós.
  2. ASSUNTOS GERAIS DA FÉ: Fora a pessoa e obra do Deus Triúno, há vários assuntos periféricos da fé que aparecem no Novo Testamento. Todos esses assuntos se forem enfatizados, causarão divisões e problemas entre os filhos de Deus. Nesse caso, temos praticado ser gerais como Paulo encoraja em Romanos, cap. 14. Nesse item se encontram: a questão do véu, das línguas e dons espirituais, a imposição das mãos, a forma como o batismo deve ser realizado, a forma e periodicidade como a ceia deve ser realizada, se o arrebatamento ocorrerá antes, durante ou depois da grande tribulação, sobre o milênio, sobre como devemos nos vestir, sobre como deve ser conduzida uma reunião da igreja, a salvação se perde ou é eterna etc. A respeito desses assuntos não podemos ser conclusivos dizendo que isso está certo e aquilo está errado. Podemos (e devemos) expressar nosso ponto de vista, mas devemos deixar para cada irmão e irmã tirar suas conclusões, de acordo com a consciência de cada um e da medida de fé que alcançou. Não devemos discutir a respeito desses assuntos, nem insistir neles, porque eles não vão tornar alguém mais ou menos santo, nem mais ou menos amado pelo Senhor. A insistência ou a ênfase nesses assuntos gerais da fé, contudo, irá causar divisão entre os irmãos e o dano será cobrado pelo Senhor daquele que gerou a contenda. Se um pequenino se perder por causa dessas questões, teremos de dar conta diante do Senhor (Lc 17:2). Toda nossa ênfase deve ser levar os irmãos a estarem EM CRISTO, amando a DEUS sobre todas as coisas e amando o próximo, porque Deus é amor.
  3. ASSUNTOS RELACIONADOS À PRÁTICA DA IGREJA: Cada grupo cristão pratica a vida da igreja de uma forma peculiar em sua cidade, segundo a orientação do Senhor e a própria estrutura e tamanho da cidade. Há irmãos que gostam de cantar muitos hinos; há irmãos que gostam de pular e festejar; há irmãos mais quietos que gostam de meditar e orar; há irmãos que gostam de ouvir e pregar mensagens longas; há irmãos que não gostam de ouvir mensagem, mas gostam bastante de compartilhar nas reuniões; há irmãos que acham que as reuniões devem ter dia e horário fixo e há outros que não acham necessário. Todas essas questões são relacionadas à prática da vida da igreja e não dizem respeito à fé, nem no sentido específico, nem no sentido geral. Nessas questões não há ensinamento nenhum no Novo Testamento, mas tudo deve ser feito para a edificação (1 Co 14:26). Nenhum irmão tem o direito de sair de sua cidade e influenciar outra cidade no sentido de que “copie” determinada prática. Algo que foi adotado por uma cidade, pode ser totalmente inadequado para outra. Assim como Deus tem uma forma peculiar de tratar cada pessoa, cada igreja também tem uma forma peculiar de lidar com questões relacionadas à prática.
  4. DEIXAR-SE LEVAR PARA O QUE É PERFEITO (Hb 6:1; 2 Pe 3-11): Como filhos de Deus, temos a necessidade de buscar diante do Senhor os melhores ensinamentos e as melhores práticas, com o auxílio de todos os santos, para que não nos tornemos inativos ou infrutíferos. Todo ensino saudável tem como objetivo enriquecer nossa experiência com a vida divina, e nunca deveria ser tratado como um fim em si mesmo. Além disso, essa vida que está em nós espontaneamente cresce, mas também deve ser regada através de comer e beber de Cristo, alimentar nossos conservos e desenvolver os dons até tornarem-se ministérios para que outros sejam aperfeiçoados. Por um lado não insistimos em doutrinas ou práticas, mas por outro estamos abertos para as experiências e pontos de vista do Corpo de Cristo, para que possamos ser aperfeiçoados.
  5. O LIMITE DA GENERALIDADE: Quando falamos de receber todos os filhos de Deus, sem discutir os assuntos gerais da fé, isso não implica sermos cegos, já que o Novo Testamento traz algumas situações em que temos de usar nosso discernimento no espírito quanto a grupos ou pessoas que podem prejudicar os filhos de Deus:
 Aquele que negligencia em ouvir a igreja (Mt 18:15-17). Aqueles que causam divisões (Rm 16:17; Tt 3:10). Aquele que não quer abandonar o pecado (1 Co 5). Aquele que vai além da doutrina de Cristo (2 Jo 9).
Resgatando a centralidade de Cristo na nossa vida individual e coletiva, estaremos alicerçando nossa fé em um firme fundamento. Após isso, podemos compartilhar esse Cristo experimentado uns com os outros – e isso produzirá edificação. Enquanto compartilharmos e insistirmos com doutrinas e práticas, causaremos mais e mais divisões, mas quando compartilhamos nossas experiências de Cristo, estaremos edificando com bons materiais: ouro, prata e pedras preciosas.



 (Texto adaptado de http://igrejanoslares.com.br por Alexandre Araújo)

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