Examinamos cuidadosamente as
condições positivas da oração eficaz; mas existem algumas coisas que prejudicam
a oração. Deus tornou isso bem claro na Sua Palavra:
1.
O primeiro impedimento à oração é encontrado em Tiago 4:3, “Pedis, e não recebeis, porque
pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres”.
Um
propósito egoísta na oração rouba-lhe o poder. Muitas orações são egoístas.
Pode tratar-se de coisas perfeitamente adequadas para ser objeto de petição,
coisas que sejam da vontade de Deus conceder, mas o motivo da oração é
inteiramente errado, e assim ela se anula. O verdadeiro propósito na oração é
para que Deus possa ser glorificado na resposta. Se pedirmos algo simplesmente
para recebermos o que pedimos e usá-lo em nossos prazeres ou em nossa
gratificação, estamos “pedindo mal” e não devemos esperar receber aquilo que
pedimos. Isto explica por que muitas orações permanecem sem resposta.
Por
exemplo, você está orando pela conversão de alguém. É certo fazer isso; mas o
motivo pelo qual pedem a conversão é impróprio, é egoísta. Você quer que ele se
converta porque seria muito melhor para você que ele tivesse as suas mesmas
idéias, ou porque é tão penoso pensar em que ele poderia morrer e estar perdido
para sempre. Por razões assim egoístas você quer que ele se converta. A oração
é puramente egoísta. Por que você deveria desejar a conversão dele? Em primeiro
lugar e acima de tudo, para que Deus possa ser glorificado; porque você não
pode suportar a idéia de que Deus, o Pai, possa ser desonrado pelo fato dele
pisar sobre o Filho de Deus.
Muitos
oram por um reavivamento. Essa é certamente uma oração que agrada a Deus, está
dentro da Sua vontade; mas muitas orações nesse sentido são puramente egoístas.
Desejam isso para ver crescer o número de pessoas, para que possam ter mais
poder e influência, para aumentar arrecadação, para que um bom relatório possa
ser feito entre os irmãos responsáveis, nas conferências ou associações. Com
propósitos tão inferiores como esses, as igrejas e irmãos responsáveis
freqüentemente oram pedindo um reavivamento, e Deus com freqüência também não
responde à oração. Por que deveríamos orar pedindo um reavivamento? Para a
glória de Deus, porque não podemos suportar que Deus continue a ser desonrado
pelo mundanismo da igreja, pelos pecados dos incrédulos, pela arrogante
incredulidade de nossos dias; porque a Palavra de Deus está sendo invalidada;
para que Deus possa ser glorificado ao derramar Seu Espírito na Igreja. Por
essas razões, em primeiro lugar e acima de tudo, devemos orar por um
reavivamento.
Muitas
orações pedindo o Espírito Santo são puramente egoístas. É com certeza da
vontade de Deus conceder o Espírito Santo àqueles que pedirem tal coisa – Ele
nos disse isso claramente na Sua Palavra (Lucas 11:13), mas muitas orações
nesse sentido estão sendo prejudicadas pelo egoísmo do motivo que está por trás
da oração. Homens e mulheres pedem o Espírito Santo para que possam ser
felizes, ou para ficarem livres das dificuldades em sua vida, ou para terem
poder na obra. Por que devemos orar pedindo o Espírito? Para que Deus não possa
mais ser desonrado pelo baixo nível de nossas vidas cristãs e pela nossa
ineficiência no serviço, para que Deus possa ser glorificado na nova beleza que
entra em nossa vida e no novo poder que passa a fazer parte de nosso serviço.
2.
O segundo impedimento à oração está em Isaías 59:1,2: “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar;
nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e
os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça”.
O
pecado impede a oração. Muitos homens oram repetidamente, e não obtêm qualquer
resposta. Talvez sejam tentados a pensar que não é da vontade de Deus
responder, ou que os dias em que Deus responde às orações se é que Ele o fazia,
já passaram. Os israelitas parecem que pensavam assim. Pensavam que a mão do
Senhor estava encolhida, e que se tornara surdo, não podendo mais ouvir.
“Mas
não é assim” disse Isaías, “o ouvido de Deus está tão bom como sempre, Sua mão
continua poderosa para salvar; mas existe um impedimento. Esse impedimento é o
seu pecado. Suas iniqüidades fizeram separação entre vocês e o seu Deus, e os
seus pecados ocultaram a Sua face, para que não possa ouvi-los.”
O
mesmo acontece hoje. Muitos estão clamando em vão a Deus, simplesmente por
causa do pecado em sua vida. Pode tratar-se de algum pecado passado, que não
foi confessado e ficou sem julgamento, pode ser algum pecado presente que
esteja sendo abrigado e, provavelmente, nem sequer é considerado como pecado,
mas este está ali, oculto em algum lugar do coração ou na vida da pessoa, e
Deus “não vai ouvir”.
A
pessoa que descobre que suas orações não são eficazes, não deve concluir que o
seu pedido não está de acordo com a vontade de Deus, mas deve aproximar-se dEle
com a oração do salmista: “Sonda-me, ó
Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há
em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139:23,24), e
esperar diante dEle até que coloque o dedo naquilo que não Lhe agrada. Esse
pecado deve ser então confessado e afastado.
Lembro-me
de uma ocasião em que eu estava orando por duas coisas definidas que, segundo
me parecia, eu deveria ter ou Deus seria desonrado; mas a resposta não veio.
Acordei no meio da noite em grande sofrimento físico e grande angústia de alma.
Clamei a Deus por essas coisas, raciocinei com Ele como era tão necessária a
sua obtenção, e imediatamente; mas não tive resposta. Pedi a Deus que me
mostrasse se havia algo errado em minha vida. Algo me veio à mente, algo em que
eu muitas vezes pensara, alguma coisa definida que eu não estava disposto a
confessar como pecado. Eu disse a Deus: “Se isto é errado, vou desistir de
fazê-lo”, mas mesmo assim não veio a resposta. Em meu íntimo, apesar de nunca
tê-lo admitido, eu sabia que era errado.
Finalmente
eu disse:
“Isto
está errado. Pequei. Vou desistir.”
Encontrei
paz. Em poucos minutos estava dormindo como uma criança. Acordei pela manhã bem
disposto fisicamente, e o dinheiro, que era tão necessário para a honra do nome
de Deus, veio.
O
pecado é uma coisa terrível, e uma das coisas mais terríveis a respeito dele é
a maneira como impede as orações, a maneira como interrompe a comunicação entre
nós e a fonte de toda a graça, poder e benção. Quem quiser ter poder na oração
precisa ser impiedoso com os seus próprios pecados. “Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá.”
Sl 66:18 – ACF (Almeida Corrigida e Fiel). Enquanto nos apegarmos ao pecado ou
tivermos qualquer controvérsia com Deus, não podemos esperar que Ele ouça as
nossas orações. Se houver algo que estiver surgindo constantemente em seus
momentos de íntima comunhão com Deus, é isso que impede a oração: afaste-o.
3.
O terceiro impedimento à oração é encontrado em Ezequiel 14:3, “Filho do homem, estes homens levantaram os
seus ídolos dentro em seu coração, tropeço para a iniqüidade que sempre têm
eles diante de si; acaso permitirei que eles me interroguem?” Os ídolos no coração fazem com que Deus se
recuse a ouvir as nossas orações.
O
que é um ídolo? Um ídolo é qualquer coisa que tome o lugar de Deus, qualquer
coisa que se torne o objeto supremo de nossas afeições. Somente Deus tem
direito ao lugar supremo em nossos corações. Tudo e todos devem subordinar-se a
Ele.
Muitos
homens fazem um ídolo de suas esposas. Não que um homem possa amar demais a
esposa, mas pode colocá-la no lugar errado, pode colocá-la adiante de Deus; e
quando o homem considera o prazer da esposa antes do prazer de Deus, quando lhe
dá o primeiro lugar e a Deus o segundo, a esposa é um ídolo, e Deus não pode
ouvir as orações dele.
Muitas
mulheres fazem um ídolo de seus filhos. Não se trata de amarmos demasiadamente
a nossos filhos. Quanto mais amamos a Cristo, tanto mais amamos nossos filhos.
Mas podemos colocar nossos filhos no lugar errado, podemos colocá-los adiante
de Deus, e seus interesses antes dos interesses de Deus. Quando fazemos isso
nossos filhos são os nossos ídolos.
Muitos
homens fazem de sua reputação ou de seu negócio o seu ídolo. A reputação ou o
negócio é colocado adiante de Deus, e Este não pode ouvir as orações de tal
homem.
Uma
grande pergunta para nós decidirmos, se quisermos poder na oração, é esta: Deus
é absolutamente o primeiro? Ele está adiante da mulher, dos filhos, da
reputação, do negócio, de nossa própria vida? Caso negativo, a oração eficaz é
impossível.
Deus
freqüentemente chama nossa atenção para o fato de termos um ídolo, não
respondendo nossas orações, e nos levando assim a perguntar por que as mesmas
não são respondidas, e descobrindo então o ídolo que, depois de afastado,
permite que Deus ouça as nossas orações.
4.
O quarto impedimento à oração é encontrado em Provérbios 21:13, “O
que tapa o ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido”.
Não
existe talvez maior impedimento à oração do que a sovinice, a falta de
liberalidade em relação ao pobre e ao serviço de Deus. É aquele que dá
generosamente aos outros que recebe generosamente de Deus. “Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante,
generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos
medirão também.” (Lucas 6:38.) O homem generoso é poderoso na oração. O
mesquinho não tem poder na oração.
Uma
das declarações mais maravilhosas sobre a oração eficaz (a que já me referi) é
1 João 3:22, “e aquilo que pedimos, dele
recebemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos diante dele o que
lhe é agradável”, e está ligada com a generosidade em relação aos
necessitados. O contexto nos diz que é quando amamos, não de palavra ou de
língua, mas em obras e em verdade, quando abrimos o nosso coração ao irmão
necessitado, é então e somente então, que temos confiança para com Deus na
oração.
Muitos
homens e mulheres que estão buscando descobrir o segredo de sua falta de poder
na oração, não precisam ir muito longe; não é nada mais nada menos do que
simples sovinice. George Müller, a quem já me referi, era um homem poderoso de
oração porque era poderoso no dar. O que recebia de Deus nunca se apegava aos
seus dedos, ele imediatamente o passava a outros. Estava constantemente
recebendo porque dava constantemente. Quando pensamos no egoísmo da igreja
professa hoje em dia, não é de admirar que a igreja tenha tão pouco poder na
oração. Se quisermos receber de Deus precisamos dar a outros. A promessa talvez
mais admirável na Bíblia com relação ao suprimento de nossas necessidades por
parte de Deus é Filipenses 4:19, “E o
meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada
uma de vossas necessidades”. Esta promessa gloriosa foi feita à igreja de
Filipos e estava ligada à sua generosidade.
5.
O quinto impedimento à oração é encontrado em Marcos 11:25: “E quando estiverdes orando, se tendes
alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as
vossas ofensas”.
Um
espírito que não perdoa é um dos impedimentos comuns à oração. A oração é
respondida com base no fato de nossos pecados terem sido perdoados; mas Deus
não pode tratar conosco na base do perdão se estivermos abrigando inimizade
contra os que fizerem mal. Quem quer que esteja sentindo ressentimento contra
outra pessoa irá fechar o ouvido de Deus à sua própria petição. Quantos há que
estão clamando a Deus pela conversão do marido, esposa, filhos, amigos, e se
perguntando por que a sua oração não é respondida, quando o segredo está em
algum ressentimento que ocultam no coração contra alguém que os tenha
prejudicado, ou que julgam que os prejudicou. Muitos pais e mães estão
permitindo que seus filhos vão para a eternidade sem estar salvos, pela
miserável satisfação de odiar alguém.
6.
O sexto impedimento à oração é encontrado em 1 Pedro 3:7: “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com
discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais
frágil, tratai-a com dignidade, por isso que sois juntamente herdeiros da mesma
graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações”. Esta
passagem nos diz claramente que um
relacionamento errado entre o casal é um impedimento à oração.
Em
muitos casos as orações dos maridos são prejudicadas pelo fato de falharem em
seu dever para com as esposas. Por outro lado, é sem dúvida também verdade que
as orações das esposas são prejudicadas por falharem em seu dever para com os
maridos. Se os maridos e esposas procurassem diligentemente encontrar a causa
de suas orações não-respondidas, iriam geralmente descobri-las em suas mútuas
relações.
Muitos
homens que têm grandes pretensões à piedade, sendo muito ativos na obra cristã,
mostram pouca consideração no tratamento de suas esposas, sendo freqüentemente
indelicados e até brutos; depois se perguntam por que suas orações não são
respondidas. O versículo que acabamos de citar explica o aparente mistério. Por
outro lado, muitas mulheres dedicadas à igreja, e fiéis na freqüência a todos
os serviços, tratam o marido com a negligência mais imperdoável, são malcriadas
e mostram-se irritadas contra eles, ferindo-os com sua língua aguçada e seu
gênio explosivo; e depois se perguntam por que não têm poder na oração.
Existem
outras coisas no relacionamento entre marido e mulher que não podem ser faladas
publicamente, mas que sem dúvida constituem com freqüência um empecilho à sua
aproximação de Deus em oração. Existe muito pecado oculto sob o nome sagrado do
matrimônio que é causa de morte espiritual e incapacidade na oração. Qualquer
homem ou mulher cujas orações não pareçam ter resposta deve expor diante de
Deus toda a sua vida de casado, e pedir-lhe que coloque o Seu dedo sobre qualquer
coisa que não seja do Seu agrado.
7.
O sétimo impedimento à oração é encontrado em Tiago 1:5-7: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a
todos dá liberalmente, e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a,
porém, com fé, em nada duvidando;
pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento.
Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa”.
As
orações são prejudicadas pela incredulidade. Deus exige que creiamos
absolutamente na Sua Palavra. Duvidar dela é fazer dEle mentiroso. Muitos de
nós fazemos isso quando suplicamos pelas Suas promessas, e é então de admirar
que nossas orações não sejam respondidas? Quantas orações são prejudicadas pela
nossa miserável incredulidade! Vamos a Deus e Lhe pedimos algo que está
positivamente prometido na Sua Palavra, e então praticamente não esperamos ser
atendidos. “Não suponha esse homem que
alcançará do Senhor alguma coisa.”
Adaptado de: Reuben Archer Torrey (1856-1928)