A unidade da
igreja já foi vista no passado como uma necessidade de que todos os irmãos que
se separaram em diferentes denominações abandonem suas bandeiras e vão para
debaixo, única e exclusivamente, do nome de Cristo.
De fato,
investigando o Novo Testamento, não há como justificar as divisões do povo de
Deus. Pelo contrário, há vários versículos que condenam as divisões, por
opiniões ou doutrinas, seja entre judeus e gregos, seja entre gentios entre si,
chamando essas pessoas divisivas de carnais ou meninos em Cristo (1 Co 3:1-3).
Ocorre-nos, entretanto, o seguinte questionamento: ainda que todos os cristãos abandonassem seus grupos, haveria alguma
garantia de que eles seriam um só em Cristo?
Imagine que cada
grupo cristão, reunindo-se na mesma cidade, seja representado por um desses
círculos (imagine seis círculos). Assim, nessa cidade, haveria seis grupos
cristãos. Daí alguém chega e diz para os irmãos que estão nesses grupos:
- Ei, por que vocês estão se dividindo? Por que não saem desses grupos e
passam a viver a unidade? Alguns irmãos, então, resolvem sair do grupo e passam
a viver juntos. Com o passar dos anos, o
grupo então começa a criar algumas peculiaridades que o diferencia dos demais
grupos. Inexplicavelmente, então, nessa cidade em que havia seis grupos,
surge mais um, o sétimo grupo que se identifica como aqueles que não pertencem
a nenhuma facção nessa cidade. Os demais grupos, então, criticam esse novo
grupo dizendo que ele nada mais é que uma nova divisão no Corpo de Cristo, só
que sem nome e sem identificação. O novo grupo, então, rebate essas críticas
dizendo que eles estão testemunhando a unidade da igreja nessa cidade, isto é,
proclamando que, nessa cidade, não deveria haver seis grupos, mas apenas um: a
igreja ou o sétimo grupo. Os demais grupos então argumentam: - qual o critério
utilizado para que vocês possam dizer que são um em Cristo e nós não? O grupo
novo então responde que é porque eles, do sétimo grupo, estão no espírito e os
demais grupos não. Daí a controvérsia se alonga em intermináveis discussões. É
interessante notar que, para afirmar que um grupo de pessoas é um com o Senhor
no espírito, tenho de sondar o coração de todas as pessoas na cidade, as que
estão no grupo novo e as que não estão. Para ter tal capacidade, a pessoa que
dá o testemunho dessa unidade só pode ser o Espírito Santo, o único capaz de
sondar corações e mentes. Como se pode notar, esse critério de entender o Corpo
de Cristo como grupos isolados não é útil, razoável, nem lógico, quando se
busca a unidade, porque parte de dois pressupostos que não podem ser aferidos
por nenhum ser humano:
1º pressuposto: se em uma cidade há um pequeno grupo que
testemunha a unidade, logo, o coração desses irmãos é um. Isso é
verdade? Todos esses irmãos são de fato um? Quem pode determinar
isso? Só o Espírito Santo.
2º pressuposto: nessa mesma cidade, todos os demais irmãos que não
estão dando esse testemunho de unidade não são um; não são um com Cristo e
não são um com os demais santos. Ou será possível alguém ser um com Cristo
e estar dividido dos demais irmãos? Quem pode determinar isso? Só o Espírito
Santo.
A
CAMINHADA
Qual o melhor
critério, então, para entender a vida da igreja e nos relacionarmos com todos
os cristãos que estejam na mesma cidade? Imagine várias pessoas caminhando
juntas: Algumas estão lado a lado; outras estão na frente e ainda outras estão
atrás. Se você reler os Evangelhos, notará que a vida do Senhor nesta terra foi
uma vida de peregrinar. Ele visitava as pessoas, entrava em cidades, passava
por caminhos, montes e praias, deitava ao relento com seus discípulos, comia
com eles, dormia com eles, acordava com eles e voltava a caminhar. Até mesmo no
livro de Atos, a igreja foi identificada como aqueles do CAMINHO, talvez pela
atitude que eles tinham de não se apegar a esta Terra. Parece-nos que, ao invés
de estarmos vivendo uns com os outros em círculos fechados como se o grupo
fosse um fim em si mesmo, a vida da igreja melhor seria representada como uma
grande peregrinação nesta Terra, uma procissão triunfante. Nessa caminhada,
encontramos várias pessoas, recebemos o Evangelho, pregamos o Evangelho e
continuamos caminhando para o alvo. Durante a caminhada, o Senhor pela Sua
soberania coloca-nos ao lado de outros companheiros de caminhada. Com esses
companheiros, temos comunhão, oramos juntos, sofremos juntos e aprendemos
juntos. Mas há muitas outras pessoas nessa caminhada: uns estão atrás, ainda
passando por lugares que já passamos há muitos anos; outras estão à nossa frente,
encontrando lugares que nem sonhamos que existam; há ainda alguns que
resolveram parar de caminhar e se estabeleceram pelo caminho; outros ainda
estão caminhando em círculos discutindo algumas questões acerca de como
caminhar melhor. Esse caminho, contudo, é muito estreito e acidentado e muitas
pessoas desistem dele ou não se aventuram em trilhá-lo. De qualquer forma, os
que iniciaram sua caminhada e perseveram, um dia chegarão ao fim dessa
caminhada, uns antes, outros depois. A visão da caminhada ao invés da visão
circular (de grupo) ajuda-nos a nos relacionar com os demais irmãos na mesma
cidade. Há santos que estão caminhando com grupos denominacionais, há outros
que estão caminhando com grupos não-denominacionais; há ainda aqueles que estão
caminhando nas casas. Não importa a situação, importa que continuemos
caminhando. Sim, há alguns que pararam de caminhar e passaram a viver em função
do grupo; mas há também aqueles que, independente do lugar em que se encontram,
querem continuar caminhando. Podemos ajudar esses irmãos e podemos receber
ajuda deles. Podemos ser até mesmo companheiros de caminhada por um tempo. Qual
o problema? Não estamos indo para o mesmo lugar e não temos todos o mesmo alvo?
Essa caminhada pode durar um tempo curto ou pode durar anos. Além disso, a
visão da caminhada é dinâmica, enquanto a visão circular (de grupo) é estática.
Há alguns companheiros que conhecemos no passado que resolveram parar de
avançar, mas que hoje voltaram a caminhar. O importante é que cada um de nós
prossiga para o alvo individualmente, mas que não rejeite caminhar com os
companheiros de caminhada que estão ao nosso lado. Assim, podemos nos encorajar
mutuamente. Todos podemos aprender juntos a conhecer a Cristo:
“Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações;
a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente
compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento,
e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o
entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Ef 3:17-19).
“Por isso exortai-vos uns aos outros, e
edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis” (1 Ts 5:11).
“Antes, exortai-vos uns aos outros todos os
dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça
pelo engano do pecado” (Hb
3:13).
“E disseram um para o outro: Porventura não
ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos
abria as Escrituras?” (Lc
24:32).
“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a
vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jo 14:6).
UNIDADE
PARA DEUS
Se estar em
denominações não é o ideal, mas também procurar esta unidade também não nos
traz garantias, que fazer? Talvez o problema maior a ser enfrentado seja o
nosso conceito de unidade. Será que unidade para nós é a mesma coisa que
unidade para Deus? Para ajudar a solucionar essa questão, vamos ver
primeiramente o que é unidade para os homens: estar sob o mesmo ministério - fazer
as mesmas coisas - gostar das mesmas coisas - criticar as mesmas coisas - ler os mesmos livros ou ler os livros do
mesmo autor – reunir no mesmo grupo
cristão - não ler outros livros que não a Bíblia - vestir-se da mesma forma
- usar véu ou não usar véu - falar em línguas ou não falar em línguas -
reunir-se nas casas ou reunir-se nos templos ou reunir-se nas casas e nos
templos - não falar mal dos líderes - concordar
com as diretrizes e decisões do grupo - participar das reuniões com freqüência
- envolver-se com os serviços da igreja - praticar
tudo que seja promovido pelo grupo ou pelo Ministério - pregar o Evangelho
- distribuir folhetos, vender livros ou
jornais. Estranhamente, nós não encontramos esse conceito de unidade da
Bíblia, especialmente no Novo Testamento. Se Deus não pensa em unidade dessa
forma, seria muito interessante saber como Ele pensa, até mesmo para sabermos
se o que estamos praticando ou almejando é a mesma unidade que Deus pratica e almeja.
Vejamos. Se você já leu a oração sacerdotal de Jesus em João 17 poderá
encontrar algumas pistas do que seja unidade para Deus. Ali lemos uma oração
maravilhosa que seria desconhecida se Jesus não a tivesse feito em voz alta. Na
realidade, é uma conversa íntima entre o Pai e o Filho, acerca da saudade de
estarem juntos e de como, após a partida do Filho, poderíamos viver neste
mundo. Nessa oração tão intrigante, Jesus fala de uma relação da unidade que
Ele mantém com o Pai. Ele diz que os dois são um! O Apóstolo João ficou tão
impressionado com essa questão que, na sua Primeira Epístola capítulo 1,
versículo 3, ele nos disse que:
“O que temos visto
e ouvido, anunciamos também a vós, para que vós também tenhais comunhão
conosco; e, de fato, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus
Cristo.”
Note que o
Apóstolo tinha uma comunhão com os irmãos, mas essa comunhão era no Pai e no
Filho. Quando João estava nessa comunhão e quando os irmãos também se
encontravam nessa mesma comunhão, ali havia unidade. Essa comunhão maravilhosa
do Pai, Filho e Espírito é como um ponto de encontro, onde todos os irmãos
podem ir e permanecer. Além de ser a origem da comunhão, esse “lugar”
também é a fonte, a força original, a vitalidade e o motor que impulsiona a
comunhão do Corpo de Cristo no Deus Triúno. Quando estamos todos nesse “lugar”,
isto é, no Deus Triúno, então estamos na unidade. Quando estamos fora desse
“lugar”, já estamos na aparência, na religião e na divisão. O Apóstolo Paulo,
definiu essa unidade através de vários exemplos. Um deles está em 1 Co 6:17:
“Aquele que se une ao Senhor
é um Espírito com Ele.”
Dito de outra
forma, quando estamos no nosso espírito somos um com o Senhor. Se todos
estiverem no espírito, então seremos um, pois é no nosso espírito que o Pai, o
Filho e o Espírito habitam. Não há outro lugar onde se possa desfrutar dessa
unidade. Se você procurar ler as epístolas de Paulo, verá várias outras
metáforas acerca dessa unidade: o Corpo de Cristo, a família de Deus, o Novo
Homem, o Casamento etc. Para o Apóstolo, essa unidade era tão importante que
ele nos constrange a ser diligentes em nos esforçar diligentemente para “preservar
a unidade do Espírito no vínculo da paz“, citando ainda que o motivo de
sermos um é porque há:
Um só Corpo e um
Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança do vosso chamamento;
um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é
sobre todos, por meio de todos e em todos (Ef 4:3-6).
Note, por favor,
querido irmão, que Paulo não está falando para nós buscarmos tal unidade. Ele
está apenas descrevendo essa unidade que já possuímos por termos nascido de
novo. Não se trata de uma herança a ser recebida ou uma meta a ser alcançada;
trata-se da realidade perceptível e que pode ser experimentada no nosso
espírito! Voltemos para João 17. Atente para os seguintes trechos em negrito:
Depois de dizer isso, Jesus olhou para o céu e
orou: “Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te
glorifique. Pois lhe deste autoridade sobre toda a humanidade, para que conceda
a vida eterna a todos os que lhe deste. Esta é a vida eterna: que te
conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem
enviaste. Eu te glorifiquei na terra, completando a obra
que me deste para fazer. E agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória
que eu tinha contigo antes que o mundo existisse. Eu revelei teu nome
àqueles que do mundo me deste. Eles eram teus; tu os deste a mim, e eles têm
guardado a tua palavra. Agora eles sabem que tudo o que me deste vem de ti.
Pois eu lhes transmiti as palavras que me deste, e eles as aceitaram.
Eles reconheceram de fato que vim de ti e creram que me enviaste. Eu
rogo por eles. Não estou rogando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois
são teus. Tudo o que tenho é teu, e tudo o que tens é meu. E eu tenho
sido glorificado por meio deles. Não ficarei mais no mundo, mas eles
ainda estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, protege-os em teu nome, o
nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um. Enquanto
estava com eles, eu os protegi e os guardei pelo nome que me deste. Nenhum
deles se perdeu, a não ser aquele que estava destinado à perdição, para que se
cumprisse a Escritura. Agora vou para ti, mas digo estas coisas enquanto
ainda estou no mundo, para que eles tenham a plenitude da minha alegria.
Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como
eu também não sou. Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas
do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou. Santifica-os
na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como me enviaste ao mundo,
eu os enviei ao mundo. Em favor deles eu me santifico, para que também
eles sejam santificados pela verdade. Minha oração não é apenas por
eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles,
para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles
também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes
a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um:
eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o
mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste. Pai,
quero que os que me deste estejam comigo onde eu estou e vejam a minha glória,
a glória que me deste porque me amaste antes da criação do mundo. Pai
justo, embora o mundo não te conheça, eu te conheço, e estes sabem que me
enviaste. Eu os fiz conhecer o teu nome, e continuarei a fazê-lo, a fim
de que o amor que tens por mim esteja neles, e eu neles esteja” Note as implicações dessa unidade nas palavras
do próprio Senhor mencionadas nesses versículos: receber a glória do
Filho; ter a plenitude da alegria; conhecer a Deus e a Cristo; receber a
revelação do Pai; guardar o falar de Deus; experimentar que tudo o que há em
Cristo vem de Deus; ser santificado na verdade; receber a Palavra; glorificar a
Cristo e ser protegido no Nome. Quantas implicações há nessa unidade
maravilhosa! Veja também o nível de unidade que Jesus estava revelando: a mesma
que Ele mantinha e mantém com o Pai! Quando recebemos a glória que foi dada a
Jesus, nos tornamos um. Para contemplar essa glória, Jesus pede ao Pai que nós
estejamos com Ele onde Ele estiver. Mas que lugar é esse? A resposta também
está no Evangelho de João. No capítulo 4, versos 23 a 24, Jesus diz que a hora
vem e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e
em realidade. Por quê? Simplesmente porque Deus é Espírito, e é necessário que
os que O adoram O adorem em espírito e em realidade. É só por causa disso. A
descoberta que temos um espírito humano onde o Pai, o Filho e o Espírito podem
habitar foi uma das maiores descobertas de todos os tempos (Zc 12:1; Mt 5:3,
26:41; 1 Co 2:10, 11, 5:3, 14:15-16; 2 Co 2:13, 3:6, 12:8; Ef 3:5; Gl 5:16, 25;
Rm 8:4, 16, 12:11; Jo 3:6; Jo 6:63; Gl 6:8, 18; Lc 1:47; At 16:7, 20:22, 21:4;
1 Jo 4:1;1 Ts 5:23; 1 Pe 3:4, 4:6). Através dessas passagens, podemos notar
que: 1) o Espírito Santo se comunica, fala e orienta os filhos de Deus no
espírito de cada um, como uma unção interior que ensina todas as coisas (1 Jo
2:20, 27). Quando o Novo Testamento fala que o Espírito Santo disse ou
orientou, certamente não está dizendo que foi ouvida uma grande voz vinda do
nada. Na realidade, o Espírito Santo mesclado ao nosso espírito humano (1 Co
6:17) gera uma série de percepções espirituais que, traduzidas e interpretadas
por uma mente renovada (1 Co 2:15; Rm 12:2), leva-nos a conhecer e entender o
falar do Espírito (Mc 9:7; Rm 8:14; 10:7; At 16:7). 2) Quando o Novo Testamento
fala do Espírito Santo, certamente está se referindo à pessoa do Deus Triúno.
Entretanto, quando o Novo Testamento fala apenas de Espírito, ele pode estar se
referindo tanto ao Espírito Santo, quanto ao espírito humano mesclado ao
Espírito Santo, não havendo, portanto, como discernir sobre o que está sendo
falado. Entretanto, quando o Novo Testamento fala de espírito com letra
minúscula, está se referindo ao nosso espírito humano. Além disso, cabe
destacar que o Novo Testamento em grego foi escrito só em maiúsculas, de modo
que a utilização de letras maiúsculas ou minúsculas foi feita por estudiosos do
nosso tempo. Desse modo, na dúvida se determinada passagem que utiliza a
palavra Espírito (com letra maiúscula) de fato se refere ao nosso espírito
mesclado ao Espírito Santo, optamos por analisar o contexto. Na quase
totalidade dos casos nas Epístolas, de fato, Espírito refere-se ao nosso
espírito mesclado ao Espírito Santo. Mas, voltando a João 17, que significa a
glória ali mencionada? No capítulo 13, temos mais pistas. No verso 31, Jesus
diz que foi glorificado o Filho do Homem, referindo-se à traição de Judas que
redundaria em Sua morte. No capítulo 7, verso 39, temos:
E isto disse ele
do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo
ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.
Quando
Jesus foi “glorificado”, então o Espírito Santo pôde ser dado aos discípulos.
Após a morte e ressurreição do Senhor, ele se encontrou com os discípulos:
E, havendo dito
isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.
De
fato, a glória de Cristo tornou-se visível quando o grão de trigo morreu e deu
muito fruto. Podemos então concluir que a glória é resultado da morte e
ressurreição de Cristo que tornou possível que Ele pudesse morar em nós.
Mas onde o Deus
Triúno mora exatamente? Vamos continuar pesquisando. No capítulo 14, versos 1 a
6, Jesus conforta seus discípulos dizendo que na casa do Pai há muitas moradas.
Alguns estudiosos dizem que se trata de mansões celestiais. Jesus morreria e
iria construir muitas mansões celestiais para que nós, a fim de que, quando
morrêssemos pudéssemos desfrutar delas. Bem, acreditamos que Jesus está falando
no sentido figurado. Por quê? Porque Deus não habita em mansões físicas (At
7:48; 17:24). Caso isso fosse possível, o que já seria um completo absurdo, em
Apocalipse haveria no mínimo o registro dessas mansões. Isso se Apocalipse
fosse um livro literal, o que a maioria dos doutrinadores concorda que não é,
mas sim um livro de figuras. Quando andou nesta terra, Jesus era a morada ou o
tabernáculo do Pai. O próprio Deus habitava na humanidade de Cristo, o filho
unigênito de Deus. Quem via Cristo, via o Pai. Entretanto, o plano de Deus era
aumentar essa morada que era Cristo a fim de nos levar para dentro Dele (Is
54:2; Ef 1:10, 22, 23, 3:39; Hb 9:11; Ap 15:5 e 21:3). Como fazer isso? Havia
somente uma maneira: a morte, ressurreição e envio do Espírito Santo. Através
desses estágios, o corpo individual de Cristo passaria a ser um corpo coletivo.
Paulo entendeu esse plano e se referido a ele nas epístolas aos Romanos (Rm 12)
e aos Coríntios (1 Co 12:12). Nesse corpo coletivo, haveria muitas moradas de
Deus, isto é, muitos filhos de Deus (Ef 2:22; 1 Co 6:16, 19). Quando Jesus foi
à Cruz, Ele preparou um lugar no nosso espírito para que Deus pudesse morar
nele. Ele nos limpou através do Seu sangue e nos apresentou ao Pai. Na Sua
ressurreição e envio do Espírito, Ele veio outra vez e nos recebeu para Ele
mesmo para que estivéssemos no mesmo lugar que Ele está: no nosso espírito e em
Deus (Cl 3:3; Ef 2:6)! Nesse momento tão solene tratado em João, cap. 14, Jesus
foi interrompido por Tomé (sempre Tomé), que lhe pediu para que mostrasse o Pai
(Jo 14:5). Após explicar pacientemente para Tomé como Ele e o Pai são um, Jesus
retoma o assunto acerca do lugar para onde iria e para onde deveríamos ir (leia
João 14:15-21, 23). Jesus então diz que rogará ao Pai para que envie o
Consolador, o Espírito da Realidade. Quando esse Espírito da realidade viesse,
Ele habitaria conosco e estaria em nós. Estranhamente, Jesus diz em seguida:
Não vos deixarei
órfãos, virei a vós!
Quem virá? O
Consolador – o Espírito Santo ou o próprio Senhor? Na realidade, o Senhor é o
Espírito (2 Co 3:17). No verso 23, Jesus concluiu:
Respondeu-lhe
Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos
a ele e faremos morada juntamente com ele.
Aleluia!
O Pai virá para dentro do nosso espírito; o Filho virá para dentro do nosso
espírito; o Espírito virá para dentro do nosso espírito! Você está carente da
orientação do Pai, dos Seus conselhos, do Seu abraço? Tenha comunhão com Ele no
seu espírito! Você acha que não há mais saída para você? Você acredita que foi
longe demais? Você perdeu o frescor da cruz? Converse um pouco com o Filho… Ele
está no seu espírito. Você está perturbado? Não tem paz interior? Sua
vida é uma fraude? Você vive aparentemente como cristão, mas não passa disso,
só de aparências? Que tal conversar um pouco com o Espírito da Realidade, o
outro Consolador que foi enviado para o seu espírito? Ah, quantas oportunidades
temos de ter comunhão com eles… o dia inteiro podemos conversar com esse Deus
tão maravilhoso, tirar dúvidas, desabafar, falar sobre nossos temores, ou então
louvá-Lo por tudo o que Ele tem feito em nossas vidas! E se estivermos no nosso espírito, estaremos em comunhão com o Pai, com
o Filho e com o Espírito e manteremos comunhão uns com os outros (1 Jo 1:3,
7; 1 Co 1:9; 2 Co 13:14). Quando estamos
no nosso espírito, desfrutamos dessa glória! Essa é a unidade de que fala o
Novo Testamento. Jesus é o caminho e quanto mais experimentarmos esse
Caminho e a senda que Ele caminhou, mais nos uniremos a Ele. Hoje, quanto mais
experimentamos a Cruz, mais experimentaremos a ressurreição e, quanto mais
experimentarmos a ressurreição de Cristo, mais experimentaremos o derramar do
Espírito e quanto mais Espírito desfrutarmos, mais desfrutamos dessa gloriosa
unidade. Talvez seja essa a causa do
fracasso de tantos movimentos de unidade e restauração da igreja:
Quem
quer experimentar verdadeiramente a cruz? (Mc 8:34)
Na cruz, nossas
opiniões são totalmente destruídas, nossos gostos, nosso ego, nossas doutrinas,
nossas preciosas convicções… tudo isso é destruído. Tudo o que pertence à velha
criação morre na Cruz e, do outro lado, desfrutamos da ressurreição como o Novo
Homem, onde não há espaço para nada além de Cristo (Ef 4:22-32). Compare essa unidade do Novo Testamento com
a lista de “unidades” apresentada no início deste texto e tire suas próprias
conclusões.
QUEM
RECEBER NA COMUNHÃO?
Se estamos nessa unidade de que fala o Novo
Testamento, qual o critério para receber os irmãos? Como saber se alguém está
no espírito? Como saber se alguém está em Deus? Em primeiro lugar, precisamos
nós mesmos estar em Cristo. Em segundo lugar, precisamos experimentar a
capacidade de discernimento do nosso espírito humano. Entretanto, essa
capacidade só pode ser exercitada se nos abrirmos aos outros. Somente através
do convívio de uns com os outros podemos ter essa percepção espiritual. Por
esse motivo, não temos como deixar de receber um filho de Deus. Devemos
receber todos aqueles que Deus recebeu. Dito em outros termos, deixar de receber um filho de Deus nos
tornará sectários e divisivos e certamente será uma prova cabal de que estamos
fora da unidade e da comunhão mencionada nos tópicos anteriores. Além disso, exigir dos filhos de Deus que
compactuem das nossas mesmas convicções, linhas doutrinárias ou práticas
eclesiásticas é exigir algo que o Novo Testamento não exige. A única exigência
para viver a vida da igreja é que alguém tenha nascido de novo, porque só assim
essa pessoa pode se relacionar com o Reino dos Céus hoje (releia Romanos, cap.
14 e Efésios capítulo 4 novamente).
Entretanto, no Novo Testamento, existem, pelo
menos, dois motivos para não recebermos alguém na comunhão da igreja: - se não
for filho de Deus, nem quiser saber de Cristo (2 Co 6:14) - se não quiser
deixar de viver pecando, isto é, se não quiser se arrepender após admoestado,
orientado e ajudado pela igreja toda (Mt 18:17) Fora esses casos, devemos
receber a todos que Deus recebeu.
Texto copiado e adaptado de
www.igrejanoslares.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário