Gostaria de levar o pensamento de cada um a focalizar-se em Jesus, e somente nele.
É comum ouvirmos os crentes dizerem: “Ah, como eu gostaria de obter a bênção da cura divina. Mas ainda não a obtive.”
E outros afirmam: “Eu já.”
Mas quando lhes pergunto: “O que obteve?”, não sabem responder.
Alguns dizem: “Recebi a bênção.” “Recebi a cura.” “Recebi a santificação.”
Mas, graças a Deus, o que devemos desejar não é a benção, nem a cura, nem a santificação, nem outra coisa qualquer, mas Alguém muito superior. Devemos desejar Cristo, o próprio Cristo.
Precisamos de Uma Pessoa
Encontramos na Palavra a afirmação “Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças” (Mt 8.17); “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados...” (1 Pe 2.24.) É a Pessoa de Jesus Cristo que devemos desejar. Muitos indivíduos têm uma idéia sobre Cristo, mas não passam disso. Têm um conceito na mente, na consciência e na vontade, mas ele mesmo ainda não faz parte da vida deles. Assim só possuem um símbolo e uma expressão material de uma realidade espiritual.
Certa vez vi uma reprodução da Constituição dos Estados Unidos feita sobre uma chapa de cobre. Quando se olhava de perto, via-se apenas um texto impresso. Mas quando se afastava um pouco, divisava-se na chapa a efígie de George Washington. Vistas de certa distância, as letras formavam os traços de Washington, e quem olhasse para elas enxergava apenas a pessoa e não as palavras, nem as idéias. Então ocorreu-me um pensamento: “É assim que devemos olhar para a Bíblia, para entender os pensamentos de Deus. Neles vemos o amoroso rosto de Jesus delineando-se em meio às palavras. Ali está o próprio Jesus, que se apresenta como a Vida, a Fonte da Vida, e a presença constante que a sustenta.”
Durante muito tempo orei a Deus pedindo a santificação, e muitas vezes achei que a havia recebido. Houve até uma ocasião em que senti algo diferente, e me agarrei àquela experiência, receoso de a perder. Fiquei acordado a noite toda, temendo que ela me escapasse, e é claro que, assim que a emoção e a sensação momentânea se esvaíram, ela desvaneceu também. Perdi-a, porque não me firmara em Jesus. É que estivera bebendo pequenos goles de um imenso reservatório, quando poderia estar imerso na plenitude de Cristo.
Às vezes, nos cultos, via pessoas dando testemunho sobre o gozo espiritual, e até achava que eu também o experimentara, mas não conseguia conservá-lo. É que minha fonte de alegria não era Jesus. Afinal, um dia, ele me disse com muita mansidão: “Meu filho, receba-me, e eu próprio serei a fonte constante de tudo isso.”
Então resolvi despreocupar-me da santificação e da benção em si, e passei a contemplar o próprio Cristo. Assim, em vez de ter uma experiência, entendi que tendo Cristo tinha quem era maior do que uma necessidade do momento, tinha o Cristo que era tudo de que necessitava. E ali o recebi, de uma vez para sempre.
Assim que o vi por esse prisma, experimentei um revigorante descanso. Tudo ficou acertado de uma vez por todas. Nele tinha tudo de que precisava, não apenas para aquele momento, mas para o outro, e o outro, e o outro, e assim por diante. Vez por outra, Deus me deixa entrever como será minha vida daqui a um milhão de anos, quando resplandeceremos “como o sol, no reino de (nosso) Pai” (Mt 13.43), e teremos “toda a plenitude de Deus” (Ef 3.19).
A Cura é a Vida de Cristo
Pelo mesmo raciocínio, em minha ignorância, eu achava que a cura era uma benção em si: achava que Deus iria pegar-me, como se pega um relógio parado, “daria corda” em mim, para que continuasse a funcionar, como se eu fosse uma máquina sendo consertada. Mas não era nada disso. Aprendi que as coisas se passavam de forma diferente: o próprio Jesus entrava em minha vida e me concedia aquilo de que precisasse a cada momento.
Mas eu desejara possuir um bom “estoque” dessa benção chamada “cura”, para que pudesse sentir-me rico. Queria como que ir armazenando a cura de modo a tê-la em reserva por muitos anos, para que assim não precisasse ficar dependendo de Deus o tempo todo. Mas ele não me deixou formar esse estoque. De maneira que nunca pude acumular bênçãos, fossem de que tipo fossem, cura ou santidade. Tinha apenas o necessário para cada momento. Deus me disse: “Filho, você tem que depender de mim até para receber o próprio ar que irá respirar a cada instante. Eu o amo tanto que desejo que me busque constantemente. Se lhe desse um grande suprimento de saúde, poderia passar sem mim, e não buscaria a minha face. Mas agora você me busca a todo instante, e vive descansando, confiando em mim sempre.”
Deus me contemplou com uma riqueza colossal. Depositou uma vultuosa quantia em minha conta, e me deu um talonário de cheques, com apenas uma condição para o saque.
“Você só poderá sacar a quantia de que precisa a cada momento, e nunca mais que ela.”
E assim, sempre que preciso fazer uma retirada, pego um desses cheques, todos já assinados por Jesus. E cada petição que faço glorifica mais o nome dele, pois é mencionado nas regiões celestes. Dessa forma, Deus é glorificado através de seu Filho.
Tive que aprender a buscar vigor espiritual em Jesus a cada instante, e a aspirá-lo para meu ser, ao mesmo tempo em que “expirava” meu próprio eu. Essa é a maneira pela qual temos de receber tudo que Deus nos dá, seja para o corpo ou para o espírito – a cada momento. Mas talvez alguém pergunte: “Essa dependência constante de Deus não nos deixa como que de pés e mãos amarrados, não?”
Estar sempre dependendo daquele a quem amamos, de nosso mais querido amigo é estar amarrado? De forma alguma! Essa vivência brota de modo natural, espontâneo, inconsciente, sem esforço, como uma nascente. A verdadeira vida é sempre calma e transbordante.
Agora, graças a Deus, tenho a ele. E tenho não apenas o quanto meu ser pode comportar a cada momento, mas também o quanto comportará, à medida que vou vivendo, hora a hora, a eternidade que se abre à minha frente. É como uma garrafa lançada no mar, completamente cheia. Está no mar, e o mar também está dentro dela. Da mesma forma, estou em Cristo e ele está em mim. Além da quantidade de água do mar que está na garrafa há muito mais dela à sua volta. E enquanto o frasco estiver no oceano, poderá encher-se várias e várias vezes.
Cristo Deve Ser Nossa Fé
Então a questão sobre a qual cada um de nós tem de refletir não é: “O que penso da cura divina?” mas, sim, “O que penso de Cristo?”
Certa vez um amigo me disse:
- Mas você foi curado pela fé.
- Não, não, respondi; fui curado por Cristo.
E qual é a diferença? Há uma grande diferença. Houve uma época em que a fé foi até um obstáculo entre mim e Jesus. Achava que tinha de produzir fé, e me esforcei ao máximo para tê-la. Afinal, um dia, achei que já a possuía e pensei que, se me apoiasse totalmente nela, ela me sustentaria. Confiado no fato de que já tinha fé, disse ao Senhor: “Cura-me, Senhor!”
Mas a verdade é que estava confiando em meu próprio coração, em minha própria fé. Pedia ao Senhor uma bênção com base em algo que havia em mim, e não com base nele mesmo.
Então Deus permitiu que o diabo provasse minha fé, e ele, a “devorou” como “leão que ruge”. Fiquei tão desalentado que cheguei a supor que perdera totalmente a fé. Deus permitira que ela se extinguisse, a ponto de eu pensar que não cria em mais nada.
Mas depois Deus começou a falar comigo, mansamente: “Não tem importância, filho. Você não possui nada, mas eu sou poder e amor perfeitos. Sou fé, vida, sou a sua vida; sou a preparação para a benção e a benção também. Sou todas as bênçãos interiores e exteriores; sou tudo em tudo, para sempre.”
Isso é ter a fé “do Filho de Deus”, como diz o apóstolo Paulo. “E a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus.” (Gl 2.20 – I.B.B.) Observemos que ele não diz: “na fé no Filho de Deus”. E é isso mesmo. A fé não é minha, nem sua. Por nós mesmos, não podemos produzir fé; não temos vida, não temos nada; só um grande vazio. Então precisamos abrir o coração, e deixar que ele faça tudo em nós. Temos que nos apropriar de sua fé, de sua vida, de sua cura, e dizer: “Vivo na fé do Filho de Deus.”
Não há mérito algum em minha fé pessoal. Se eu tivesse de orar por alguém não poderia fazê-lo com base em minha fé. Teria que dizer: “Senhor, eis-me aqui. Se quiseres usar-me como instrumento para curares esta pessoa, comunica-me tudo de que preciso.”
Precisamos ter apenas a Cristo e só.
Você Já se Rendeu a Cristo?
Já entregou seu corpo a Cristo para que ele habite em você e opere por seu intermédio? O Senhor Jesus Cristo possui um corpo igual ao nosso, com a diferença que o dele é perfeito. O corpo dele não é o de homem, mas o do Filho do homem. Já se perguntou por que ele é chamado Filho do homem? Esse título significa que Jesus Cristo é o protótipo do homem, universal, compreendendo em si toda a humanidade. Ele é em si mesmo tudo o que o homem deve ser, e contém tudo que ele precisa ter. Em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da Divindade e do ser humano, portanto ele é a síntese de tudo que o homem precisa. Seu espírito é tudo de que nosso espírito precisa. Seu corpo possui tudo de que nosso corpo precisa. Seu coração bate com a energia de que o nosso necessita. E ele possui órgãos e funções vitais que estão cheios de vitalidade, não para si mesmo, mas para a humanidade.
Jesus não tem necessidade dessa vitalidade. A energia com a qual ressurgiu dentre os mortos, superando as forças da natureza, não se destinavam a ele próprio. Seu maravilhoso corpo pertence a nós. Somos membros de seu corpo. Temos o direito de receber do coração dele tudo de que o nosso necessita. Temos o direito de extrair de sua vida física a força e a base de sustentação de que precisamos para a nossa. Assim, nossa vida não vem de nós, mas da preciosa vida do Filho de Deus.
Quer recebê-lo agora, para que seja a sua vida? Você não apenas será curado, mas terá uma vida nova, com o suprimento de todas as suas necessidades. Terá um fluxo vital que varrerá de seu corpo as enfermidades e constituirá uma fonte de energia para tudo de que vier a precisar. Receba-o em plenitude!
Meu Grande Segredo
Se eu afirmasse agora que possuo uma fórmula secreta para se obter riqueza e sucesso, que recebi diretamente do céu, e que, por meu intermédio, Deus daria grandes quantidades dela a quem quisesse, todo mundo ficaria muito interessado. Pois quero mostrar-lhes na Palavra de Deus uma oferta muito mais valiosa que essa suposta fórmula. Inspirado pelo Espírito, o apóstolo Paulo diz que existe um “mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações” (Cl 1.26). Trata-se de um segredo que o mundo tem procurado, mas não encontra; um segredo que os sábios estão sempre desejando. E o Senhor nos garante que “agora, todavia, se manifestou aos seus santos”. E Paulo viajou pelo Império Romano entregando essa mensagem a quem estivesse apto para recebê-la. Eis o segredo: “Cristo em vós, esperança da glória.” (vs. 27.)
O grande segredo é: “Cristo em vós.” E eu o passo a você agora, se quiser crer no que Deus diz. Para mim, ele tem sido maravilhoso. Faz alguns anos busquei a Deus, cheio de temores e de sentimento de culpa. Apliquei esse segredo à minha vida e foi a solução para todas as minhas preocupações e meu fardo de pecados. Mas depois, após algum tempo, vi-me outra vez dominado pelo pecado, e a tentação me parecia forte demais. Busquei a Deus, e de novo ele me disse: “Cristo em vós.”
Foi assim que obtive a vitória, o descanso, as bênçãos.
Foi o Fim das Enfermidades
Nessa ocasião, perdi completamente a saúde. Sempre trabalhara muito. Desde os quatorze anos trabalhava e estudava sem descanso. Aos 21, assumira o pastorado de uma grande igreja. Tive seis doenças graves. Minhas forças estavam esgotadas. Houve diversas ocasiões em que pensei que iria cair morto no púlpito. Devido ao esgotamento e a deficiências cardíacas, sempre que subia um pequeno lance de escadas, sentia falta de ar.
Já ouvira falar sobre cura divina, mas rejeitei a idéia. Tinha medo dela. Aprendera no seminário que a era dos milagres já passara, e não conseguia romper com os ensinamentos que recebera. Assim meu intelecto estava sendo um empecilho para que recebesse a bênção. Afinal fui obrigado a assistir ao “enterro de minhas convicções pessoais”, como já disse a alguém. E mais uma vez o Senhor sussurrou ao meu ouvido aquele mesmo segredo: “Cristo em vós.” Naquela hora recebi-o para a cura das enfermidades, como já o recebera para a restauração espiritual. Sarei. Fiquei tão forte que o trabalho passou a ser um verdadeiro prazer em mim.
Desde então, tenho sempre passado as férias de verão na calorenta cidade de Nova Iorque, pregando e evangelizando. Além disso, tenho trabalhado também no nosso “Lar” e na escola bíblica, e tenho escrito muitos artigos e livros, desempenhando também muitas outras atividades.
Mas a benção que recebi do Senhor não foi apenas a remoção da enfermidade; não foi uma simples cura. Ele me deu a si mesmo de tal forma que eliminou até a consciência de dor, o melhor aspecto de toda essa restauração que ele opera em nós. Dou graças a Deus por haver-me libertado da preocupação mórbida com a saúde. Não tenho mais aquela ansiedade com relação ao corpo. Essa vida que Jesus me transmite traz tanto gozo, que trabalhar para ele é um descanso e um verdadeiro prazer.
Deu-me Agilidade Mental
Outro problema que me atormentava era a lentidão mental; tinha a mente pesada, morosa. Não conseguia raciocinar nem agir com rapidez. Queria usar meu intelecto para Cristo, queria escrever, pregar; queria ter uma memória arguta para que o pouco conhecimento que possuía estivesse sempre na ponta da língua. Orei ao Senhor a respeito disso, perguntando se ele poderia abençoar-me também nessa questão.
“Claro, filho”, respondeu ele. “Sou a tua sabedoria.”
Estava sempre cometendo certos erros, o que me deixava bastante contrariado, com o anseio de nunca mais cometê-los. Aí Cristo me disse que eu poderia ter a mente dele, e que ele seria meu intelecto. Disse-me que levaria cativo todo pensamento à sua obediência e que ajustaria meu cérebro. Então apropriei-me dele também para essa benção. E desde esse dia ele tem-me preservado, corrigindo as imperfeições mentais, e trabalhar tem sido um descanso.
Antes disso, eu levava seis dias para escrever dois sermões. Hoje, por estar comprometido com a publicação de sermões, sou obrigado a produzir inúmeras laudas por semana, além de me preparar para os diversos cultos que dirijo. E nada disso é cansativo; pelo contrário, é um prazer. O Senhor tem-me abençoado muito no que diz respeito à mente; agora percebi que ele nos restaura a mente da mesma forma como salva a alma.
Outra coisa. Eu tinha vontade fraca. Um dia lhe perguntei:
- Senhor, podes ser minha vontade?
- Claro, meu filho, respondeu ele. “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” (Fp 2.13.)
A partir daí ele me ensinou como e quando devia agir com firmeza, e como e quando devia ceder. Muitas pessoas possuem vontade forte, mas não sabem se mostrar firmes no momento certo.
Busquei em Cristo também o poder para realizar sua obra, bem como os recursos de que necessitava para o serviço. Ele nunca me negou nada. Por isso digo, se esse precioso segredo for de valia para o leitor, aproprie-se dele, e faça melhor proveito do que eu. Parece-me que estou apenas começando a entender o quanto é valioso. Aproprie-se dele, irmão, e ponha-o em prática continuamente, não somente agora, mas por toda a eternidade. Cristo em nós, para ser tudo de que necessitamos, de graça em graça, de força em força, de glória em glória, de hoje em diante e pela eternidade.
Extraído do livro: Jesus Cristo, Ele Mesmo – A Relação Que Faz a Diferença (A. B. Simpson).
Editora Betânia – 1ª edição – páginas. 11 a 20.
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